quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O MURO QUE GRITA




A intervenção urbana teve suas origens na Antiguidade Clássica, em Roma, quando cidadãos comuns escreviam com carvão ( chamado de grafite) nas construções arquitetônicas da cidade, particularmente nos muros e nas catacumbas, palavras de ordem contra as arbitrariedades da política e profetizações. O grafite moderno surgiu com o movimento contracultural de maio de 68, nas origens do movimento hip hop quando jovens do Bronx se utilizavam de tintas em spray para escrever desenhos artísticos e frases de protesto. Se alastrando pelo mundo, a intervenção urbana absorveu pessoas e criou vários em Amsterdã, Berlim, Paris e Londres artistas, como Jean-Michel Basquiat (que usava o pseudônimo de SAMO), Ori Hilal, Keith Haring e Kimmy Scharf. Eles faziam de edifícios e fábricas abandonadas o suporte de suas ações diretas. Seus trabalhos chegaram ao Brasil em 1983 na XVII Bienal de Arte de São Paulo. Aqui influenciaram com sua arte marginal nomes como Alex Vallair, Martuck e Zaidler , que começaram a desenvolver fora das grandes galerias trilhas visuais de questionamento político e de belas imagens. Em 1985 esses mesmos nomes divulgaram seus trabalhos na XVIII Bienal. A profetização e o protesto político abriram espaço para o questionamento contracultural, a manifestação apurou-se parindo novas técnicas como o stencil, a colagem, a aerografia, as instalações. A ação abre espaço para o debate público, livre, fora dos grandes e tendenciosos meios de comunicação direcionados para a massa. Política ou poética é a arte do povo que expressa a opinião da pessoa comum, nascida na periferia, marginalizada. Arte livre de qualquer censura, de mordaças, rápida e impactante. A seguir entrevista com Júnior Dish, interventor urbano situado em Goiânia.
Priscylla:Como você começou a trabalhar com intervenção urbana? [

Júnior Dish.:Desde os meus 16 anos, quando eu tive acesso a um curso de grafite que estava sendo realizado pela Secretaria da Juventude do Estado de Goiás. Eu já tinha vontade de fazer, desde muito cedo, sempre achei que a arte é marginal. Escrevia em tudo, sempre achei que a cidade inteira é um bloco de papel. Então comecei nesse curso de grafite não tendo idéia de nada e desenvolvi algumas coisas que nunca achei que seriam úteis.
Priscylla: Que tipo de coisas?
Júnior Dish: Acabei utilizando as técnicas que aprendi mais tarede na pixação e vandal art, escrever rápido com spray e canetão, a usar traços e linhas belas e suaves. Sempre procuro abordar temas que tenham a ver com frases ácidas, coesas e obscenas. Uso traços na imagem figurativa da mulher. Sempre procuro me lembrar de um traço que vi em alguma mulher...e depois passar ele pros meus desenhos, sempre a figura feminina como primeira pessoa, mulheres nuas, é claro.
Priscylla: E seus temas mais recorrentes?
Júnior Dish : Uso temas que sei que irão constranger os espectadores, palavrões e sempre o non-sense, política acho meio clichê. Mas eu ofendo e dou minha face para ser ofendida.

Priscylla: Você vai contra alguma corrente de intervenção urbana? Tem alguma coisa que te desagrada?
Júnior Dish: Desagrada o fato da demarcação de território que a pixação utiliza...Pra que isso ? Não somos cachorros...É uma panela filha da puta isso, a arte marginal te liberta disso, covê tem a liberdade de fazer o que quiser. Desde que não prejudique ou tampe o trabalho de um outro artista.

Priscylla: E qual sua impressão sobre a arte urbana?
Júnior Dish: A arte urbana é pra fora das grandes galerias...A arte é verdadeiramente marginal, é instinto, alma, atitude, e tudo o que ela pode ser...Não há cidade sem a arte urbana, e também o mesmo sem a cidade...então escreva o que quiser nas paredes dela...você já fez isso quando era criança, ou se não, já deu vontade de fazer, a arte urbana nada mais é do que um instinto guardado dentro de você, de dizer que tu existe! Então piche, escreva o que você tem vergonha de falar...escreva fora da sua casa, nas paredes da sua rua, ônibus, na escola, e escreva o que pensa sobre tudo...grite bem alto nos muros da cidade, e mostre o que a arte pode fazer com outras pessoas, sendo que já fez com você... O tornou Art!

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