sexta-feira, 21 de agosto de 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
OLHANDO PARA
o olho nada nas profundezas oceânicas abissais
entre peixes fluorescentes e cristais de sais
seu cílio único ricocheteia e avisa
nadar e se refrescar é tudo que ele precisa
olho nada para o abismo do oceano
olho pinga suas lágrimas para abastecer o mar
olho perfura a água fluída para alívio encontrar
ela está lívida
deitada na cama
o olho se fecha
um nome ela chama.
POR PRISCYLLA
CANTA!!!
BULIMIA!!!!
Foi em meados de 1998 que Bianca e Berila se encontraram e tiveram uma conversa que revelou o desejo em comum de ter uma banda só de garotas. Ambas já tinham alguma experiência com bandas, inclusive só de garotas, mas estavam sem tocar na época. Juntas formavam uma boa estrutura, com Berila na bateria e Bianca na guitarra, mas sabiam que seria um desafio encontrar garotas dispostas a tocar punk rock e enfrentar o antiquado, porém inevitável, preconceito à emancipação feminina. Apesar disso, estavam dispostas a tentar. Pensando em quem aceitaria tal missão, Bianca chamou a amiga Silvia, que estava aprendendo as primeiras notas no baixo. Faltava apenas uma pessoa para completar o quarteto, e Iéri, amiga de Bianca, surgiu como a opção definitiva. Pronto! Estava formada a banda. BULIMIA - este foi o nome escolhido para a banda. O nome de uma doença que atinge tantas mulheres, obcecadas por um padrão de beleza ditado pela mídia, não podia ser melhor para uma banda, que luta justamente contra a cultura machista e patriarcal de nossa sociedade, que trata as mulheres como simples objeto, que deve seguir um padrão estereotipado de beleza para serem aceitas. Foi com essa idéia que Bianca escreveu o que mais tarde acabaria virando o hino da banda, uma música sobre mulheres que deixam de fazer o que querem por achar que é coisa de homem, a clássica "punk rock não é só pro seu namorado." Elas estavam empolgadas! Ensaiavam pelo menos duas ou três vezes por semana na garagem da casa da Berila. Silvia estava começando a faltar pelo fato de não ter horários compatíveis com os das outras garotas. Sem que dessem Naiana, que já havia tocado em outras bandas com Bianca, foi assumindo o baixo. Como já tinham seis músicas prontas, resolveram fazer uma gravação caseira para ter uma idéia do que estavam fazendo. Foi impossível esconder a satisfação e orgulho daquela gravação tão tosca! Elas não só tinham conseguido montar uma banda de garotas como tinham em suas mãos o fruto desse projeto. Foi na época em que o Misfits, uma banda de punk rock americana, veio se apresentar no Brasil, pela primeira vez, em julho de 1998. E como toda fã, Bianca se preparava para ir a São Paulo assistir o show, aproveitando a situação para levar em sua mochila algumas fitas com a tal gravação. Essas fitas foram entregues a um amigo de Campinas, um de Taubaté e outros de São Paulo capital sem muita pretensão, pois era apenas uma gravação caseira. Mas com isso, a banda começava a ficar conhecida por amigos mais distantes. Em Agosto de 98 elas entraram num estúdio para gravar uma demo com as 6 músicas prontas. A inexperiência impediu que o resultado fosse 100% satisfatório, mas como toda banda de punk rock, a preocupação não era se o som estava bom, e sim se era possível que as letras fossem entendidas. Nessa época, surgiu o convite para participar com duas músicas de uma coletânea de bandas femininas do Brasil, organizada pelas amigas das bandas feministas paulistas TPM e Dominatrix. O convite era irrecusável, já que a idéia era divulgar aquela gravação. Bulimia foi a primeira banda da coletânea, que acabou recebendo o nome de "punk rock não é só pro seu namorado" Em outubro de 98, o namorado da Bianca, Alvaro Dutra, resolve gravar 10 músicas, e ela entra em estúdio com ele participando tanto da gravação (tocando guitarra e cantando) quanto da produção. Isso deu a ela uma visão mais ampla de como trabalhar num estúdio, tanto pelo fato de Álvaro já ter alguma intimidade com estúdios por ter feito algumas outras gravações antes, como pelo descompromisso do trabalho, e pela amizade com o dono do estúdio. Com uma visão mais ampla de como conduzir uma banda, Bianca sugeriu que o Bulimia entrasse em estúdio para gravar 15 músicas e lançar um CD independente. Escolhendo o estúdio com o qual já tinha intimidade, tudo parecia simples: chegar, gravar e sair. Acontece que os horários disponíveis no estúdio não condiziam com os delas e isso acabou prejudicando a agilidade da gravação, que levou muito mais tempo do que o planejado devido as curtas sessões de gravação, que as vezes chegavam a uma hora por semana. Após gravar os instrumentos e vozes, passaram para a fase de mixagem e masterização. Mais uma vez, um imprevisto atrasaria ainda mais a produção: o estúdio estava mudando de lugar. Após alguns meses parados, Bianca e Alvaro retomam a produção dando os últimos retoques necessários ao disco. Nesta época, Bianca, Alvaro e Bruno Cavalcanti, juntaram seus projetos e fundaram o PROTONS, selo que teria como primeiro lançamento o cd "Se julgar incapaz foi o maior erro que cometeu", do Bulimia. Tudo pronto, o cd é enviado para a fábrica com a promessa de ser entregue em 10/02/2001. Para a tristeza de todos os envolvidos com a produção do cd, assim como com a banda, chega a notícia de um sério acidente, envolvendo Berila e o namorado (Bill). Após três dias desaparecidos, seus corpos foram encontrados numa cachoeira do Vale da Lua (Chapada dos Veadeiros). A notícia do afogamento do casal gerou muita tristeza, afinal, a banda perdeu não só uma amiga, mas a integrante que, junto a Bianca, fez a banda. Não havia muito sentido em continuar. Todos estavam muito abalados, e não se deram conta de que o cd que deveria chegar no dia 10 de fevereiro ainda não havia chegado. Ao ligar para o representante responsável pelo cd, a surpresa: o cd não estava pronto, e ainda não tinha previsão de ser entregue. Nisso, correram boatos de que o tal representante não estava trabalhando como deveria e já tinha causado problemas a outras pessoas. O desespero foi total ao se dar conta de que todo o dinheiro investido talvez estivesse perdido. Após muitos problemas, investigações e interurbanos, o cd finalmente fica pronto, no dia 15 de abril. Apesar da banda já não existir, o cd "Se julgar incapaz foi o maior erro que cometeu", que contém 15 das 16 músicas que a banda compôs, é um registro bem completo do que essas quatro garotas fizeram em sua curta carreira. Hoje: Ieri e Naiana estão envolvidas com suas vidas profissionais sem tempo para bandas. Bianca, além de trabalhar com a PROTONS, toca na banda Pulso.
Ps.: Texto retirado do myspace da banda.
DOWNLOAD: BULIMIA - SE JULGAR INCAPZ FOI O MAIOR ERRO QUE COMETEU
Ps.: Texto retirado do myspace da banda.
DOWNLOAD: BULIMIA - SE JULGAR INCAPZ FOI O MAIOR ERRO QUE COMETEU
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Sobre as mulheres - Artigo de Viviane Mosé
O ser humano nasce pronto, mas incompleto. Essa incompletude se resolve na vida e nas relações sociais. Ser mulher, assim como ser homem, mais do que um fator biológico, é um fenômeno social. Não somente os papéis sociais, mas a própria subjetividade se compõe a partir de modelos que se fazem e desfazem de acordo com a época, a cultura, a idade, a necessidade.
O mal que a sociedade fez, a nós mulheres, assim como fez aos homens, foi a imposição de um único papel social, de um único modelo. Ao contrário dos gregos que, mesmo sendo bastante opressora com as mulheres, as representavam em papéis muito distintos, como a guerreira, a mãe, a esposa ciumenta, a mística, a sedutora, etc, nos foi dado um lugar restrito, confinado, sem opção, o lugar de santa, dona de casa, esposa casta, mãe. Mas e o lugar dos homens era um bom lugar?
O homem, mesmo ocupando o papel de opressor, também sofria a restrição de um papel social excessivamente rígido: homens não choram, são provedores da família, têm que ser viris, etc. E a luta das mulheres, ao contrário de ser contra os papéis sociais opressores, se tornou, em uma determinada perspectiva, contra os homens.
Ainda permanece nas lutas que travamos um ranço, uma reatividade, uma vingança, não somente contra os homens, mas contra a maternidade, os trabalhos domésticos, o cuidados com os filhos, a fragilidade, a sensibilidade, ou tudo que nos lembre aquilo que um dia fomos. E terminamos nos tornando um ser híbrido, que nasceu não de uma ação, mas de uma reação, um ser que nega a si mesmo, nega seu corpo, seus hormônios, suas lágrimas pré menstruais, e busca cada vez mais conquistar espaços sociais, honras, que nunca fizeram felizes aos homens e hoje oprime e apaga mulheres cada vez mais sozinhas e poderosas. Que percebem, tarde demais, devido ao limite de nosso relógio biológico, que não era nada daquilo que queriam.
Quem somos mulheres de hoje? Mulheres cada vez mais independentes, mas talvez excessivamente independentes, ou oprimidas pela independência. Por isso mulheres maravilhosas, incríveis, criativas, fantásticas, belas, mas sozinhas, aprisionadas por um plano, um projeto de vida construído em reação a opressão a que fomos submetidas. A hora agora nos exige um novo passo: não se trata mais de tomar um lugar, mas de criá-lo: qual o lugar de nossa diferença, qual o lugar que nos faz florescer? Precisamos construir um espaço que nos caiba e este espaço deve ser necessariamente complexo, como nosso corpo, nossa potencialidade. A mulher expande pra dentro, mas também explode pra fora em forma de broto, filho criação, invenção.
Viviane Mosé
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
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