domingo, 12 de abril de 2009

A gênese de um novo mundo


A gênese de um novo mundo.

Por Mariana Ferreira Saraiva
A frase de Castells que entitula esse post se refere, por mais clichê que ela soe se vista a partir da imensa gama de frases feitas e iconoclásticas que a historiografia da ciência e os academicistas inauguram a todo o momento, a uma realidade marcada pelas tecnologias de informação e comunicação que, boas ou más, impactam todas as esferas da vida humana e geram, senão um novo mundo, um mundo, no mínimo diferente.
Práticas sociais, relações econômicas, culturais, institucionais, valorativas e até mesmo políticas se embaralham diante daquilo que Pierre Lévy chamou Cibercultura; uma forma cultural produzida socialmente, surgida das novas relações comunicacionais em rede, das relações sociais engendradas no Ciberespaço, da abertura do pólo emissor, da inversão do paradigma da comunicação um-todos para o todos-todos, do compartilhamento de arquivos em rede, da circulação cada vez mais veloz de informações, da imensa capacidade de armazenamento e circulação de dados na rede, entre outros.
Diante deste cenário, resumido nos parágrafos anteriores e, sem querer cair nas armadilhas da querela apocalípticos versus integrados, que não é prioridade neste post e que, definitivamente, não configura uma fuga em uma pretensa imparcialidade epistêmica, uma outra questão se mostra latente: o mundo está mudando e a proporção de tais mudanças cobra de toda a sociedade novas posturas. Junto com a Cibercultura surgem novas formas de sociabilidade. O fato é que Cibercultura ultrapassa a idéia de ser mais um simples conceito da modernidade. Ela se impôs e está longe de ser uma opção. Vivemos em um mundo onde o digital e o virtual se estabelecem e fortalecem seus sustentáculos de uma maneira nunca antes vista.
O que faz tal questão ser objeto de necessário estudo é, justamente, o fato de que a sociedade, em muitos aspectos, ainda se limita ao debate sobre o que esse formato cultural tem de bom ou de ruim, como se o mesmo fosse uma opção passível de ser alterada ou anulada se assim quisermos. A verdade é que não é preciso muito para concluir que o movimento cibercultural é tanto um produto social quanto um produtor de mudanças. Para constatar tais mudanças basta observar a guerra entre grandes gravadoras da indústria fonográfica e os internautas que se deliciam com downloads de discos inteiros na rede e, com isso, vão constituíndo uma cultura do grátis que mina aos poucos a cultura do pago. E essa realidade é produzida. Sobre isso, Castells bem disse: Os sistemas tecnológicos são realmente produzidos. A produção social é estruturada culturalmente. A Internet não é exceção. (CASTELLS, 2003, p.34).
O problema está posto. É hora de pensar a cibercultura encarando-a de frente, considerando sua força implacável, suas implicações nas muitas esferas sociais, suas contradições, problemas e potencialidades. É hora de entender tal fenômeno sem mitificá-lo ou enquadrá-lo em velhos padrões e abordagens. Enquanto cultura recombinante, há que se encará-la por uma ótica aberta à recombinação. Buscar formas de adaptação à essa realidade não totalitária não é, necessariamente, filiar-se a ela, mas sim reconhecê-la pois, mesmo que a rede não seja uma realidade onde todos têm o acesso, ela influencia de forma incalculável todas as pessoas. É preciso abandonar o medo e encarar o novo, pois ele já está aí.
Buscar soluções para os efeitos colaterais da Cibercultura, pensar como atua e até mesmo se deve, ou não, atuar a jurisdição nessa esfera; como se pode conviver com ela e como fazer o melhor uso possível desse espaço, reconhecendo seus paradoxos, potencialidades e trajetória; como ela pode se relacionar com as esferas econômica e políticas tradicionais são premissas para que possamos, se não alcançar, ao menos nos aproximar da lógica real e recombinante que comanda suas engrenagens.
Para saber mais sobre a cibercultura é só visitar este outro blog que a Mariana Saraiva colabora:
http://construindoacibercultura.wordpress.com/

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